Formação no bom caminho ou que caminho? - O meu modelo



Depois de uma evolução fulminante do Futsal entre as massas e a consequente projecção mediática, ombreando com as demais modalidades de pavilhão com história em Portugal, o Futsal parece ter estagnado e até entrado em recessão apanhando a boleia da crise em Portugal (basta ver as desistências transversais a todos os escalões e divisões que estão a ocorrer). Se as organizações federativas e associativas à muito têm vindo a ser criticadas aqui e ali, quer pelos custos que impõem ao clubes quer mesmo pelo apoio ou falta dele que vão prestando aos clubes, principalmente com o intuito de reduzir despesas a maior dificuldade do momento, é ver as equipas a fugirem para ligas paralelas que se vão criando aqui e ali onde o custo é reduzido e a competitividade é cada vez maior, também tenho sentido ultimamente algum atropelo inexplicável e mesmo selvagem entre treinadores e jogadores e dirigentes, com diz que disse e boatos e intriga que não entendo mas tenho presenciado como um fenómeno recente e cada vez mais evidente.
Isto leva-me de novo na minha cabeça, e agora passado a artigo, a pensar no modelo de formação existente em Portugal (não conheço as outras realidades), até como forma de garantir o futuro da modalidade e uma competitividade alta como as nossas selecções têm tido. Sempre defendi no círculo reduzido de amigos com quem vou falando que sou contra os campeonatos distritais e depois fazes finais e nacionais de escolas, Infantis e Iniciados, entendo que é mesmo cruel por miúdos das idades compreendidas nestes escalões a jogarem por pontos e resultados semanalmente e até mesmo duas vezes por semana quando há feriados e depois treinarem uma ou duas vezes por semana, acho cruel ainda por cima quando me deparo com as fracas condições humanas e logísticas que se vão dando a estes escalões (não haverá seguramente uma mão cheia de clubes com condições para realizar um bom trabalho). Ver miúdos a ser responsabilizados por acções de jogo e más decisões tomadas próprias das idades, ainda por cima decisões essas que nem sequer são trabalhadas em treino (exercício), apenas debitadas em forma de palestra ou correctivo, como se uma criança tivesse a capacidade de absorção e compreensão de um adulto. Saliento ainda o facto de em formação muitas vezes vemos a anciã de ganhar a todo o custo, treinadores pais e dirigentes a berrarem como se de uma champions se tratasse ou um teste para a faculdade onde o futuro brilhante ou sombrio se decidisse ali naquele momento, ainda por cima ver planteis de 12 ou mais miúdos jogarem 5 a 7 jogadores e os outro não têm direito a competir, a evoluir ou a se divertir com a redondinha.
Quero no entanto salvaguardar que enquanto técnico, onde a competitividade e combatividade está-me no sangue não viesse a cometer os mesmos erros, e por isso não treino formação, não sinto vontade nem motivação para o fazer, só por factores irrecusáveis poderia aceitar tamanho desafio!
Assim julgo que muito se podia melhorar, defendendo uma modelo de ensino gradual, a formação de escolas com pessoal competente, claramente que a escola pública teria ou poderia ter uma papel fundamental neste plano, mas não tem e nunca terá (seria uma discussão ainda mais longa a fazer). Entendo por isso que há imagem de outras modalidades que tanto ocupam os nossos filhos quando pequenos, o Futsal deveria de igualmente ter um modelo de ensino gradual, faseado, com cabeça tronco e membros. Os nosso filhos vã para a natação e têm de 1º aprender a nadar, vão para o Karate e não vão logo a combate, entram na patinagem ou nas danças e não fazem logo campeonatos. Assim entendo que um miúdo atleta de Futsal terá de 1º aprender a gostar da modalidade, sim porque teremos sempre a sombra do Futebol e do estrelato que tanto fascínio trás a muitos pais e ilusões a muitos miúdos, depois não entendo como pode uma miúdo jogar sem saber passar ou receber uma bola, como poderá um treinador treinar passe recepção e postura individual num treino por semana e depois ter de montar uma estratégia de grupo para poder jogar ao fim de semana, sei de algumas hipóteses de o fazer mas para mim é queimar etapas, e se em outros países de maior dimensão a escolha é maior e a própria modalidade é mais focada e por isso mais cativante (Brasil; Espanha Rússia e outros) aumentando o leque de escolha, no nosso pais isso não acontece, somos poucos e muito espalhados pelas diversas modalidades.
Por isso defendo um modelo de ensino onde as crianças estejam e aprendam sem a pressão de competir mas de evoluir e praticar o desporto saudável que não existe quando se tem de competir e nunca existirá com a passagem para escalões superiores, treinem gradualmente e façam torneios periódicos a testar as suas capacidades e evolução, à imagem do Karaté por exemplo onde os torneios nas idades e graus mais básicos são espaçados no tempo apenas para testar a evolução e preparação de cada um para o passo seguinte, assim aquele treino semanal que a maioria tem ao fim de 3 meses dava ao atleta um espaço para evoluir e depois em torneios de Natal, Pascoa ou de Verão o nível evolutivo ia-se sentir, e com 14 anos acredito seguramente que um atleta quando entrasse numa clube para competir ia mais maduro mais refinado, mais disciplinado, mais capaz e a partir daqui ia evoluir para competir e não para ganhar competências. Os Guarda-redes por exemplo treinam 3 e depois defende um ou dois, e num só treino onde é preciso jogar muito, onde está o trabalho específico? Se tivéssemos escola de Guarda redes, trabalho individual e especifico não garantiríamos mais qualidade no futuro?
Defendo este modelo talvez porque a única experiência que tive em sub-13 seguiu-se por estes moldes e eu dei-me bem e os atletas, dirigentes e pais sentiram a evolução dos seus educandos, onde depois em torneio a evolução fez-se notar e a felicidade dos miúdos de se sentirem capazes com nunca se tinham sentido antes encheu-me de orgulho e felicidade.
Deixo esta longa reflexão, também à muito que não escrevia e achei pertinente deixar todo o meu sentimento relativamente à matéria. Boa leitura e aceito e agradeço discussão e opinião relativamente ao assunto.
Bom Futsal e Futsal para sempre!

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