Futuro = consequências do Passado

Ouço muitas vezes dizer que antigamente era diferente, e era! Que o compromisso era outro, que nos levantávamos com ganas de ir jogar, por muito cedo que fosse, o treino era um prazer! Evoluir para ser tido em conta era o mais importante! De facto os tempos mudaram, o compromisso já não é o mesmo, a determinação deixou de ser objetivo na grande maioria, e os jovens atletas de hoje, muitos deles, perderam a referência no exemplo que vem de cima, julgam que já sabem tudo e não abrem caminho nem perspetivam outros horizontes. Se tiver de desistir, desiste-se, há com que ocupar o tempo, treinar sim, mas até a um certo limite de paciência que é definido por cada um.


Escrevo este artigo porque hoje vi dois grandes exemplos de que o caminho fácil, o desrespeito pelo trabalho, pelas regras de grupo, a falta de determinação e até mesmo o ruído que se cria à volta não trazem nada de abonatório para o crescimento, afirmação e desenvolvimento dos atletas. Falo especificamente do caso Maicon no F. C. Porto   ( http://www.maisfutebol.iol.pt/mercado/14-02-2016/fc-porto-maicon-cedido-ao-sao-paulo-ate-30-de-junho)  e de Júlio Alves, atleta promissor e que agora se vê no desemprego
(http://www.maisfutebol.iol.pt/exclusivo/14-02-2016/entrevista-a-julio-alves-o-erro-era-meu-nao-era-dos-treinadores ), mas muitos outros há como exemplo. Duas situações diferentes, mas que espelham bem a ideia que quero transmitir. Num dos casos uma atitude irrefletida e depois toda a sua envolvência e ruído criado que fez com que o Maicon deixasse de ser uma referência para passar a ser dispensável, e noutra um claro exemplo de que o facilitismo, o desleixo e a via mais fácil não é nunca a solução. Encontrar culpas ou culpados não é fácil. Porque é que se mudaram mentalidades? Porquê e quando é que aconteceu toda esta viragem de paradigma? Sou treinador e pai, e muito me consome esta viragem, será da educação? É certamente! Mas será que a educação é má? Não necessariamente! Hoje há mais alternativas, mais informação e nem sempre fornecida da melhor maneira. Se não for na atividade A pode sempre ser na B e os pais querem é a felicidade imediata dos filhos. Aos formadores também é mais fácil e até mesmo aliciante virar o foco para quem se aplica e se interessa, erradamente na minha perspetiva, é muito mais fácil ignorar o problema do que tentar resolve-lo.

Abordar esta temática seria muito mais do que isto, daria certamente para elaborar muitas teses, várias soluções e certamente nenhuma seria a ideal. Mas continua-se a assistir, e cada vez mais, histórias onde a falta de trabalho de base por parte dos próprios acaba por se refletir no futuro e só quando esse futuro passa ao tempo passado é que damos valor ao que ficou por fazer e ao exemplo que não soubemos seguir, hoje e cada vez mais a frase “ Se eu tivesse dado ouvidos aos mestres de outros tempo, hoje seria seguramente outro!”, com a agravante que este outro seria certamente um eu melhor, mais realizado e mais completo!

 A incerteza do que realmente se pretende e acima de tudo a falta de dedicação assente no fácil acesso às alternativas muito mais facilitadoras para a realização imediata, por vezes hipotecam e acabam por desviar o potencial existente, bem como esse potencial hoje exageradamente sublinhado acaba por criar mundos fáceis que depois são facilmente absorvidos por outros assentes no trabalho e no sacrifício para construir todos os dias um futuro melhor.


Não há, ou pelo menos não consigo encontrar a melhor das soluções, aqui tento sempre ser um desses “mestres” do passado que alerta, exemplifica e recomenda, e nesse sentido existem inúmeros exemplo de que o trabalho árduo, dedicado e afirmativo compensa sempre, se não trás o sucesso de outros, pelo menos trás responsabilidade, sentido de dever, de retribuição pelo que nos dedicamos e reconhecimento, algo pelo que devemos sempre lutar. Ronaldo, Ricardinho e tantos outros que são os melhores e as grandes referência, quando olhamos para o seu passado e para a sua história vemos o sacrifício, a dedicação o querer, sempre presentes. É fácil agora olhar para as habilidades que fazem e tentar reproduzir e já está, mas o trabalho de criar as nossas próprias habilidades e a inteligência de pegar na sabedoria dos outros e trabalhar em nosso favor isso é que é realização, isso é que é riqueza e legado!


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